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الأحد، 22 يونيو 2008

O Inferno

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Estávamos enterrando um amigo quando um celular interrompeu a cerimônia. Depois de uma breve troca de olhares reprovatórios, compreendemos que o ruído vinha do cadáver, cujo caixão havia sido aberto para que o finado recebesse o último adeus. A viúva, depois de alguns segundos de suspense inclinou-se sobre o morto e tirou o celular de um dos bolsos da jaqueta dele. "Diga", pronunciou dolorosamente. Não sabemos o que escutou do outro lado, mas a vimos palidecer, em seguida gritou: "Fernando morreu ontem e você é uma vadia que destruiu nosso lar". Dito isso, desligou o telefone e devolveu ao seu lugar.
Ao deixar o cemitério soube por alguém da família que havia sido um desejo do próprio Fernando ser enterrado com seu celular, o que, sendo uma excentricidade perfeitamente comum em se tratando de Fernando. Uma pessoa obscura e que sem dúvida foi uma das referências mais importantes da minha vida. Como de costume, me dirigí com alguns amigos a casa da viúva para algum consolo. Ela nos ofereceu um café que estávamos saboreando enquanto falávamos de coisas intranscendentes. O telefone tocou. Depois de alguns instantes de terror, os presentes fizeram um acordo tácito: ninguém ouviu nada, nenhum som do além foi ouvido naquela reunião de amigos. Depois de 10, 12 ligações, o aparelho se calou e a própria viúva levantou para desligá-lo. Disse que não estava para pêsames.
Aquela noite fui até o telefone e disquei o número de Fernando. Atenderam ao primeiro toque, mas desliguei antes de escutar qualquer voz. Só queria comprovar que o inferno existia.



Adaptação do texto de Juan José Milás.

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